Eu morri. Meu corpo está podre. Sinto meu osso doer. Sinto minha vida voltando. Mas como eu sinto vida? Estou morto, estou morto. Será que eu me nego a morrer? Será que existe alguém que não quer que eu vá.
Olho o relógio preso em meu pulso e vejo que são vinte horas, deve está escuro lá em cima. Observo melhor e vejo que era dia vinte e um. Lembro-me perfeitamente que quando a escuridão dominou meu corpo, era dia vinte e um do mês passado. Como isso é possível? Eu não sei! De meus olhos saem lágrimas, em meu coração o pulsar acelera. Eu queria não ter voltado, mas voltei. Esse é meu karma, minha praga, meu destino.
A escuridão surge em minha frente, destroçando os pedaços de madeira do caixão. A escuridão possui essência, possuo vida, eu a controlo. Ela perfura como uma navalha a terra, cobre meu corpo, me leva para o ar, me ergue na superfície, me dá poder. Meu terno estava cheirando mal, mas eu havia me acostumado com tal aroma. A primeira coisa que surgiu em minha mente foi ir em direção a minha antiga casa, mas pensando melhor, irei correr pelas avenidas e viver um pouco mais. Odiava minha família, ela nunca me deu devida atenção, e eu não era um garoto que gostava de chamar atenção, eu a queria, mas não queria chamá-la.
Dei passos ligeiros, a escuridão me empurrava, não deixava cair por falta de equilíbrio, ela me erguia, ela me dominava, como um pai dominava seu filho. Caminho até o além. É lá que meu inimigo está, e é lá que eu o acharei. Você não mataria alguém que lhe desse um tiro no meu da testa? Eu mato, com orgulho. Pelo menos isso eu farei.
– Você não tem muito tempo, querido – a sombra diz, sua voz parecia de um milhão de condenados.
Corri pelas nuvens, a sombra me levitava, me dava asas negras. Foi no meio de uma avenida deserta, sem carros, sem ônibus, apenas com mendigos e jovens viciados que eu o encontrei. Um pirralho portado de arma de fogo. Queria meu dinheiro, queria meu celular, queria minha mochila. Eu me neguei a dar e fui vítima de um único tiro na cabeça. Morri, hoje estou aqui, a sombra me deu essa oportunidade para matá-lo.
Ele me olha, lembrasse de mim e tira a arma. Eu ri. Estou morto, querido, ninguém pode me matar. O moleque atira cinco vezes contra mim, mas a sombra me cobre minha querida mãe, me protegendo. Minha arma se move e prende-o com toda a força. Ele geme, e minha pena não surge. Eu o queria morto. No final, ele ficou como eu, morto.
Posso dizer obrigado, mas prefiro não. A sombra queria o mal, sempre quer o mal. Nunca siga a sombra, porque ela não deixa você pensar, ela se torna sua mente, sua mãe, sua família.
Eu tive esse sonho faz um mês, e fiz essa descrição correndo, algum dia faço algo melhor. Ah, pra quem não sabe, meu sonho é ser escritor.
Escrito por: @rafsblood